A noite em que o plenário recuou
O jantar, inicialmente anunciado como um encontro de articulação política, se transformou em palco de um apelo direto do presidente da República. Lula, acompanhado de ministros e líderes da base, pressionou para que a votação da urgência da anistia fosse evitada neste momento, temendo os efeitos políticos e institucionais que o avanço do projeto poderia causar.
Durante a reunião, Hugo Motta solicitou apoio dos deputados para que ele não ficasse sozinho com esse problema na mão, e enfatizou o que classificou como uma possível “crise institucional”.
O clima, segundo relatos, foi de tensão moderada, mas com consciência generalizada dos riscos. Ao final do jantar, prevaleceu o entendimento de que o momento não era adequado para levar o tema ao plenário.
Três razões para o recuo
Fontes próximas ao Planalto e à presidência da Câmara apontam três pilares principais para a decisão:
Sensibilidade política: o governo teme que a aprovação da anistia seja interpretada como complacência com os atos antidemocráticos que abalaram a República no início de 2023.
Divisão interna: dentro da própria base aliada há setores que defendem a reconciliação e outros que alertam para o risco de impunidade.
Prioridades no radar: com a pauta econômica exigindo atenção urgente, o governo não quer desviar o foco para um tema tão explosivo.
Pressão não cessou — só mudou de cenário
Embora a votação tenha sido adiada, o impasse está longe de ser resolvido. A oposição já ameaça colocar o projeto em pauta por meio de requerimentos de urgência e, do lado de fora do Congresso, familiares dos presos prometem intensificar os protestos em Brasília.
O Planalto, por sua vez, trabalha nos bastidores para encontrar uma “solução negociada” — que não acirre os ânimos e tampouco desgaste a imagem do governo junto a seus eleitores progressistas.
Um tema que volta — e pode voltar com força
O jantar com Lula postergou o problema, mas não o resolveu. O projeto de anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro continua sendo um dos mais polêmicos do ano, com forte apelo emocional, implicações jurídicas profundas e alto custo político.
Enquanto os líderes negociam nos bastidores, o país segue dividido — e atento aos próximos capítulos de um debate que coloca à prova os limites entre justiça, perdão e estabilidade democrática.